quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Inverno: O mar para os surfistas e para as aves marinhas!

O inverno, normalmente, é tempo de mar revolto, de alerta para os marinheiros, e de “altas ondas” para os surfistas. E também é no inverno que a costa do Brasil recebe a maior diversidade de fauna marinha: mamíferos, representados pelos golfinhos e baleias; aves pelos pinguins, albatrozes, petréis, trinta-réis, etc., além de diversas espécies de peixes, sendo que todos vêm atraídos pelo zooplâncton e fitoplâncton trazidos pelas correntes marinhas frias. É cada vez mais comum ouvirmos falar ou encontrarmos com pinguins nas praias do litoral brasileiro. Diferente do que muitos dizem, estes animais não estão “perdidos” na costa do Brasil, e sim seguem a corrente das Malvinas/Falklands atrás de alimento em sua migração de inverno. Normalmente, em mar aberto, ficam no limite da plataforma continental, porém, algumas centenas desses animais se deslocam para águas mais rasas/costeiras, na maioria das vezes, por debilidade da extensa viagem, interação com artefatos de pesca, petrolizadas ou atraídos por alimento. Assim como os pinguins, diversas espécies de aves marinhas são migratórias sazonais, ou seja, todos os anos viajam centenas a milhares de quilômetros, acompanhando as correntes marítimas e a abundância de alimento, para cumprir parte de seu ciclo de vida. O Brasil é um país rico em biodiversidade, incluindo uma grande parcela das aves marinhas. Das 310 espécies de aves marinhas que existem no mundo, 130 utilizam o nosso litoral todos os anos, para reprodução, alimentação e abrigo. Além disso, por serem predadores de topo de cadeia, as aves são indicadoras da qualidade ambiental. Portanto, quando esses animais são ameaçados, principalmente por atividades humanas, pode significar desastres ecológicos importantes, colocando em risco populações e ambientes marinhos em todo o mundo. Por exemplo, das 22 espécies de Albatrozes, todas possuem algum grau de ameaça de extinção. Uma espécie ameaçada ou criticamente ameaçada, quer dizer que restam poucas centenas ou apenas dezenas de indivíduos. Os Albatrozes são aves oceânicas que raramente se aproximam da terra exceto para reprodução, que ocorre em ilhas remotas do Atlântico Sul e ilhas Subantárticas. Distribuem-se extensamente pelos oceanos, realizando as maiores migrações e viagens de alimentação conhecidas, chegando a circundar o continente antártico. Vivem cerca de 80 anos, porém atingem maturidade sexual tardia, entre 5 a 11 anos dependendo da espécie. Colocam apenas 1 ovo por temporada reprodutiva sendo que podem ocorrer em intervalos de dois ou mais anos. A morte de um indivíduo juvenil de albatroz, significa uma perda ecológica de aproximadamente 10 anos de esforço reprodutivo. Diversos tipos de pressões são sofridas pelas aves, como poluição, derramamentos de óleo, redução de alimento pela atividade intensiva de pesca, turismo desordenado nas colônias reprodutivas, introdução de doenças, entre outros fatores. Para os albatrozes em especial, a causa principal de declínios populacionais é a captura não-intencional pelos barcos que usam espinhel pelágico (técnica de pesca industrial utilizada em águas profundas para apanhar atuns, espadartes e tubarões). Ao serem atraídos e tentarem comer as iscas (lulas ou sardinhas), os albatrozes se engancham nos anzóis e morrem afogados. Em parceria com os próprios pescadores, o Projeto Albatroz desenvolve ações para diminuir esta captura. Essas medidas, hoje transformadas em leis graças ao intenso trabalho, são: o uso do toriline (aparato que espanta as aves do local onde são lançados os anzóis com as iscas), peso na linha de pesca (afunda a linha de pesca rapidamente) e largada noturna (grande parte das aves se alimentam durante o dia). O não uso dessas medidas, chamadas mitigadoras, implica em multas e descumprimento de lei. Trinta-réis é o nome dado a algumas espécies de gaivotinhas migratórias que assim foram batizadas por serem tão comuns como as moedinhas de trinta réis, e avistadas, principalmente em grandes bandos. Hoje em dia esta realidade mudou bastante. Estas aves sofreram diversos tipos de pressões antrópicas como coleta de ovos, fogo intencional em colônias reprodutivas, perturbações nos ninhais, entre outros, e atualmente não tão comuns, são avistadas em bandos menores e fragmentados. Realizam migrações entre as Américas e Europa, e algumas se reproduzem no Brasil, chamadas então de aves marinhas migratórias residentes. A trinta-réis-de-bando, a trinta-réis-de-bico-vermelho e a Trinta-réis-real são as 3 espécies que utilizam ilhas e ilhotas do nosso litoral para confeccionarem seus ninhos, colocarem seus ovos e criarem os filhotes no inverno e após seguem em direção ao sul do continente no verão. Estudos genéticos e de monitoramento populacional já afirmam que as colônias do sul, embora sejam das mesmas espécies, tratam-se de populações diferentes, pois não realizam cruzamentos entre elas (não há troca de material genético) e reproduzem-se em épocas diferentes. Ou seja, temos populações cada vez menores e exclusivas brasileiras o que pode agravar ainda mais os impactos causados nessas espécies. Devemos lembrar o nosso litoral é habitado também por outras espécies não-migratórias como os atobás, os gaivotões, as fragatas, as garças entre outros. Toda essa diversidade compõe um ambiente comum: o Ambiente Marinho, que cada vez mais é explorado/degradado por atividades humanas. Esperamos que cada vez mais pessoas se conscientizem dessa realidade e consigam entender a importância de ações para conservação. Estas ações começam partindo de pequenas atitudes pessoais, desde diminuir o consumo de sacolas plásticas, separação e reciclagem de lixo, disseminação de conhecimento até a mudanças de políticas públicas. Sabendo disso, com certeza a direção do seu olhar mudará. Você prestará mais atenção ao que te cerca na próxima vez em que for à praia! Desfrute da beleza natural desses animais enquanto é tempo!! Tempo não de extinção, mas tempo de fazermos a diferença!! Viver pra ser melhor também é um jeito de levar a vida! Juliana Yuri Saviolli Médica Veterinária Coordenadora de Medicina da Conservação do Projeto Albatroz Coordenadora do Projeto AvesAmar www.projetoalbatroz.org.br
Texto publicado originalmente em http://renataporcaro.com.br/oceanografia/inverno-o-mar-para-os-surfistas-e-para-as-aves-marinhas/