terça-feira, 25 de junho de 2013

A história do toriline

Desde a sua fundação, o Projeto Albatroz desenvolve ações com o objetivo de reduzir a captura não intencional de albatrozes e petréis, chamadas de medidas mitigadoras. Além de proteger as aves, essas medidas também beneficiam os pescadores. Afinal, a produtividade da pesca aumenta, à medida que peixes – e não aves – são capturados pelos anzóis. Uma das medidas mais importantes é o toriline, formado, entre outros elementos, por fitas coloridas que afugentam as aves. O modelo de toriline atualmente adotado foi desenvolvido pelo mestre pesqueiro José Ventura, o seu Zé, de Itajaí (SC), cidade onde o Projeto Albatroz mantém uma de suas bases de trabalho. Essa história começa em 2000 quando seu Zé, à época mestre do barco pesqueiro Macedo I, da empresa Kowalsky, apresentou para Tatiana Neves, coordenadora geral do Projeto Albatroz, o modelo desenvolvido por ele, inspirado em modelo já utilizado por barcos de espinhel. O toriline – termo composto do japonês tori, “ave”, e do inglês line, “linha” – foi criado por pesquisadores australianos para ser utilizado por barcos pesqueiros japoneses que operavam nos mares ao sul da Austrália. No entanto, o equipamento desenvolvido por eles, que passaria a ser adotado por outros países, não era adequado aos barcos nacionais, que são muito menores e, em alguns casos, feitos de madeira. Seu Zé, então, reuniu os materiais que tinha à disposição nos armazéns da empresa e montou um toriline com fitas curtas, leves e coloridas, diferente do modelo utilizado em outros países, cujas fitas eram longas e pesadas. Esse modelo consiste ainda em um cabo longo, arrastado pela embarcação durante o procedimento de largada do espinhel. A intenção é afugentar as aves para longe da área onde as isca, lançada pelos pescadores, ainda está boiando perto da superfície, antes de afundar para as profundidades de pesca, onde as aves não podem alcançá-las. O cabo tem uma das extremidades presa a um poste de oito metros de altura, posicionado na popa da embarcação; a outra extremidade leva um dispositivo que causa resistência ao ser arrastado na água, fazendo que a linha fique esticada e ganhe altura. A parte aérea é provida de fitas coloridas que balançam ao vento, afugentando as aves. O desenho padrão do equipamento foi estudado detalhadamente pelo Projeto Albatroz e, depois, apresentado às empresas pesqueiras e ao governo nacional. Em abril de 2011, os Ministérios da Pesca e do Meio Ambiente o tornaram o uso do toriline do Seu Zé obrigatoriedade nacional por meio da publicação da Instrução Normativa Interministerial nº 04. Em agosto do mesmo ano, esse mesmo modelo foi apresentado na reunião do Acordo para Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), em Guayaquil, no Equador, e adotado como uma das medidas prioritárias internacionalmente. Em novembro de 2011, foi a vez da Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT, na sigla em inglês) adotar esse modelo de toriline, entre outras medidas, através de sua Recomendação nº 09/11, aprovada em reunião realizada em Istambul, na Turquia. Assim, o uso do toriline é obrigatório para todos os barcos que pescam no sul do Atlântico. Outras medidas mitigadoras vêm sendo desenvolvidas pelo Projeto Albatroz. Uma delas está sendo estudada neste mês. Trata-se do hook pod – ou bananinha, apelido dado por alguns pescadores - um aparelho que “encapsula” a ponta do anzol antes do pescador lançá-lo ao mar. Ele se abre automaticamente, acionado pela pressão, a 20 metros de profundidade. Assim, o anzol iscado é liberado em profundidade não alcançada pelas aves, evitando que elas sejam fisgadas enquanto tentam roubar as iscas. Acompanhem as notícias sobre o teste da bananinha em nosso site. Até a próxima! Equipe Albatroz

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